domingo, 1 de julho de 2012

Os funcionários da educação, do intelecto e da arte



Autor: Luiz Felipe Pondé, filósofo, Fez doutorado na Universidade de São Paulo (USP) e na Universidade de Paris. Recebeu o título de pós-doutor da Universidade de Tel Aviv. Prof. PUC-SP e FAAP e colunista da Folha de São Paulo.







Trechos do Livro Guia Politicamente Incorreto da Filosofia

O mundo do intelecto é uma moradia que tem muitas casas, e quase todas tomadas por canalhas.


Sou professor e gosto de dar aula, coisa rara na área. Na maioria dos casos, professores de universidade (ou não) são pessoas que, além de não gostar dos alunos, têm uma inteligência mediana e foram, quando jovens, alunos medíocres, que fizeram ciências humanas, porque sempre foi fácil entrar na faculdade em cursos de ciências humanas. Claro, que quase todos pensavam em si mesmos como Marx ou Fred ainda não revelados. Ao final, o que se revela com mais freqüência é alguém fracassado que ganha mal e odeia os alunos. Professores normalmente não gostam de ler ou de estudar, mas dizem que esse pecado é apenas dos alunos. Há um enorme sofrimento na maioria dos professores, porque têm de fingir o tempo todo que acreditam na importância do que fazem. A maioria sucumbe.
Se adicionarmos uma pitada de insegurança à própria capacidade intelectual (refiro-me a uma insegurança maior do que aquela que todos nós temos em alguma medida) teremos o perfil da maior parte dos ‘’funcionários da educação, da arte, da cultura e do intelecto’’, e não só professores. Tal insegurança associada à quase absoluta falta de originalidade (as quais normalmente vêm juntas) explica em grande parte a razão de o politicamente correto encontrar entre esses ‘’funcionários’’ seu lar ideal. Claro, afora a covardia, sempre necessária para você transformar em alguém que persegue os outros, porque pensa diferente de você ou porque é melhor do que você. Nada é mais temido por um covarde do que a liberdade de pensamento. Toda forma de totalitarismo (o politicamente correto é uma forma de totalitarismo, e essa forma está presente na palavra ‘’correto’’) sobrevive graças às hordas de inseguros, medíocres e covardes que povoam a educação e o mundo da cultura e da arte.

Na escola, a mediocridade vem regada à busca de novas teorias pedagógicas (normalmente com baixíssimo impacto ou possibilidade de verificação de suas premissas); na universidade, vem vestida de burocracia da produtividade e corporativismo de bando; na arte nos discursos contemporâneos sobre a ‘’destruição da forma’’. Modos distintos de ‘’fazer nada’’ ocupando tempo e gerando institucionalização e papo-furado cheio de jargão técnico.

A suspeita de que a mediocridade reina entre os funcionários da educação e do intelecto, aparece, por exemplo, na obra de dois grandes intelectuais do século XX, o critico canadense Northrop Frye e o historiador do pensamento conservador americano Russell Kirk.

Frye afirma na introdução do seu monumental Código dos Códigos, seu livro sobre a Bíblia como grande matriz da literatura ocidental, que a universidade é tomada por pessoas de personalidade insegura e medíocre que se escondem atrás de teorias consagradas, a fim de garantir seu espaço ‘’intelectual’’ nas instituições do conhecimento. Não apenas as universidades, mas também a mídia é povoada por pessoas que afirmam o que a maioria quer ouvir, porque isso garante adesões e reduz risco de confronto.

Para pegar um exemplo da mídia, basta pensarmos em figuras como o atual presidente dos EUA, Obama e o ex-presidente do mesmo país Jimmy Carter (ambos claramente incompetentes em assuntos domésticos e internacionais e ‘’líderes para mulherzinhas’’), para ter exemplos claros do que é dizer coisas legais para receber as palmas de jovens feministas. Ambos são gente ‘’muito esperançosa’’ que mais atrapalha do que ajuda, na medida que desconhece as realidades à sua volta. A incapacidade, por exemplo, de ambos entenderem o oriente Médio é sofrível - mas voltaremos ao tema quando discutirmos as religiões. A mídia muitas vezes parece uma reunião de centro acadêmico de ciências sociais na forma de simplificar o mundo ao nível de uma menina de 12 anos.

Já Russell Kirk, historiador do pensamento anglo-saxão, nos anos 50 percebia que a universidade corria o risco de virar espaço onde gente ‘’sem posses’’ busca ascensão social.

Juntando os dois argumentos, chegamos à mediocridade enturmada que caracteriza a vida intelectual e acadêmica. Nada há de se esperar da universidade. As ciências duras ainda podem entregar remédios e robots, as ciências humanas não têm nada para entregar. Quando algo de importante nelas acontece, é a revelia das instituições que as sediam. Todos estão quase sempre ocupados com seus miseráveis salários, mas dizem que não. O cotidiano é, assim, corroído pelo esforço do autoengano e da hipocrisia.

Outro tipo de mentiroso e politicamente correto é o ‘’artista’’. As artes plásticas contemporâneas ajudam muito para isso, na medida em que gente que não sabe desenhar pode ser artista figurativo.

O que me leva a uma última questão envolvendo esses ‘’funcionários da cultura’’. A ética. Todos são muito ‘’éticos’’ e vão à mídia falar em nome da ética. Os acadêmicos, pelo que já foi dito aqui, não parecem seres muitos éticos, ainda mais quando se lembra de que manipulam concursos ao seu bel-prazer. Quanto aos ‘’funcionários da arte’’, estes não ficam atrás. Campo com quase zero de institucionalização, é quase sempre marcado por ‘’testes do sofá’’ e conversas em coquetéis em lugar de qualquer ‘’seleção criteriosa’’. Talvez, não exista universo menos ético que o da cultura, da arte e da educação, mas graças a Deus ninguém sabe disso, e seus funcionários podem continuar posando de corretos.   





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