quarta-feira, 4 de abril de 2012

Pai da administração não era administrador


 
Peter Drucker é considerado o pai da administração, embora nunca tenha administradado uma barraca de cachorro quente. Ele dedicou-se a descrever o cenário do mundo empresarial. Drucker foi escritor, jornalista, professor e consultor administrativo. Porém, dedicou-se mais intensamente a ser escritor. Ele descreveu cenários de negócios analisando as tendências atuais sob a óptica de circunstâncias históricas. Peter Drucker foi considerado o profeta dos negócios. Ele soube especular as novas tendências econômicas e sociais unindo diversas disciplinas para compor sua teoria e previsões. Seus principais influenciadores são o psicanalista, Freud e o economista, Joseph Schumpeter. Sua formação humanista e européia enriqueceu os conceitos de administração buscando referências literárias, históricas, sociológicas e musicais. Peter Drucker desistiu de ser economista, porque gostava apenas do lado humano da economia. A partir daí dedicou-se a descrever o cenário empresarial sob sua ótica.

Assim como todo profeta eles também erram. Porém, é mais lógico ressaltar apenas as previsões que deram certo. Dentre as previsões feitas pelo guru da administração que acabaram por se concretizar estão: Anos 60: Japão se tornaria potência industrial; Anos 70: computadores revolucionaram a gestão empresarial; Anos 80: investimentos em planos de pensão; Anos 90: escândalos aos salários milionários pago aos executivos. Peter Drucker rejeitava o título de pai da administração, pois ele se considerava apenas um observador. A publicação de seus livros atraiu o interesse de algumas empresas entre elas a GM, Ford, GE e IBM. E foi justamente nessas empresas que ele encontrou o laboratório perfeito para disseminar suas ideias que o tornaria o guru dos negócios.

Sem dúvida a contribuição de Peter Drucker foi de grande valia para elevar a administração ao status de ciência social. Porém, há controvérsias. Segundo um artigo do professor Leonardo Secchi, pesquisadores levantaram a existência de ensinamentos de baixo valor teórico-empírico na literatura de administração, em especial nas obras de Peter Drucker. Foram analisadas cinco obras dele e os critérios para análise apontam: falta de cientificidade nos conhecimentos, falta de espírito crítico, presença de dogmatismo, fraqueza, volatilidade conceitual e falta de humildade nos conhecimentos publicados. Para o estabelecimento desses critérios foi utilizado como base o texto de Luckesi que trata da conduta na produção do conhecimento. O livro de Luckesi lista alguns princípios lógico-metodológicos que parecem bastante adequados para aqueles que pretendem apreender, debater e divulgar conhecimentos em qualquer área e, em especial, nas ciências sociais aplicadas. Tais princípios comporiam uma moral intelectual, com objetivo de promover a honestidade e seriedade acadêmica.

 Os pesquisadores  perceberam em meio a leituras, que a bibliografia publicada sob autoria de Drucker traz ao leitor conhecimentos parciais, prescrições descontextualizadas, conhecimentos sem base em dados ou fatos rigorosamente estudados. No corpo dos livros pesquisados aparecem elementos que indicam que conhecimentos produzidos e repassados por Peter Drucker estão baseados no senso comum, sem critérios científicos e a partir de suas experiências individuais. As interpretações de eventos contemporâneos por Drucker são contestáveis, pois seus livros apresentam imprecisões na interpretação da realidade. Drucker utiliza em seus textos uma pregação de conhecimentos impositiva e dogmática. Além disso,  o próprio autor se contradiz em seus conceitos dentro de uma mesma obra. Seus textos apresentam fraqueza conceitual contendo entendimento equívoco ou incompleto sobre o tema. Os argumentos apresentados por Drucker não possuem embassamento. Seus conceitos não possuem homogeneidade e clareza. Ele faz modificações em conceitos consolidados na comunidade científica da área sem apresentar fundamentos para tais mudanças. Drucker não tinha humildade em perceber que os conhecimentos produzidos em ciências sociais são reflexo de uma análise provisória da realidade.

Seguindo critérios com base em Luckesi et al. (1991), Lakatos e Marconi (1991),  levam a crer que a bibliografia de Peter Drucker apresenta fragilidades evidentes no campo da administração como consulta acadêmica. Porém, seus livros parecem ser mais apropriados para fins de consultoria.

No Brasil, a influência de Drucker e de suas obras literárias nas escolas superiores de administração  é evidente. Principalmente nas disciplinas que tratam de administação geral, comportamento organizacional, marketing e estratégia. È provável que outros autores de administração tenham bebido da mesma fonte de Drucker e produziram conteúdos sem um viés consolidado.

Importamos paradigmas administrativos de Drucker, Kolter, Deming e Peters que na maioria das vezes não se aplica a nossa realidade cultural, política-administrativa e sócio-econômica. Drucker criou conceitos e teorias administrativas em critérios esteorotipados e pré-determinados em cima de eventos históricos. Apesar da administração não ser uma ciência exata, Drucker defendia que era necessário a prática, embora enfatizasse suas teorias como ''verdades'' de práticas administrativas.  

Não dispomos na literatura de administração nacional livros que retratam nossa cultura empresarial e nosso jeito de gerenciar negócios. Sendo assim, esperamos que o  autor-pioneiro brasileiro esteja registrado junto ao CRA-Conselho Regional de Administração para dar maior ''credibilidade'' a obra. Será que algum brasileiro conseguirá elaborar uma obra original sem sofrer influência do guru mais famoso do século XX? Só recorrendo a Freud para resolver esse dilema de princípios lógico-metodológicos na construção de teorias.

4 comentários:

  1. Concluo do relato que são opiniões soltas de pesquisadores resgatando, depois de falecido, a Coroa de Louros, mas que em vivo, fizeram uso das " hoje imperfeições, quiçá em sala de aula ", ninguém teve a Ousadia, Coragem de Interpôr, Desafiar e, fazer Obra Nacional Brasileira para concorrer com os Pilares de Drucker! Vamos aguardar Obra Inédita, nada rebuscado, compilado, clonado, ...e que os séculos sejam testemunhas da espera e igual análise que fizeram ao Legado de Drucker!
    Alvaro Monteiro (Portugal), Prof DR PHD (em Natal, RN, Brasil)

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  2. Prof. Àlvaro,

    Bem, cada pessoa tem o direito de achar uma obra ou teoria incontestável ou contestável. Há na net um artigo de 2004 do Leonardo Secchi, prof. de Ciências Sociais-UniChapecó. O artigo publicado foi antes da morte de Drucker.

    Uma das falhas da teoria nas ciências humanas é tentar estabelecer padrões seres humanos. Os cursos de Administração, Psicologia, Filosofia, Economia, etc nunca confirmaram a ilusão entre teoria x prática. A decepção que muitos recém-formados têm entre teoria x prática é que a teoria tentou mostrar padrões calculados e estudados de seres humanos.

    Não acho que os pesquisadores apresentaram argumentos soltos. Pelo contrário, eles só enfazitaram que a teoria de Drucker não seguiu os padrões de ''cientificidade'' acadêmica. Como podemos dar um tom de conhecimento científico em ciências sociais? Criando padrões de comportamento humano?

    Se não apareceu nenhum brasileiro para desafiar a obra de Drucker ao menos tivemos uma pessoa para contestá-la e alertá-la aos professores e estudantes.

    saudações e obrigada pela visita!!

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