quarta-feira, 16 de maio de 2012

Para que serve um diploma?


Um estudo feito em 2006, pelo instituto de pesquisa observatório universitário constatou que 53% dos brasileiros formados atuam em profissões diferentes do que cursaram. Nos EUA, 40% dos graduados acabam em empregos que não exigem diploma.

Se há maior procura de emprego do que oferta de vagas aumenta-se a competição. Aumentando a competição, exige-se melhor formação profissional. Sendo assim, os melhores profissionais serão sempre disputados pelas empresas e os salários tendem a ser mais atrativos. Por outro lado, se há equilíbrio entre procura e oferta reduz-se o salário de algumas categorias profissionais. Todo ano, milhões de jovens brasileiros se deparam com a difícil escolha de uma carreira ao se inscreverem num vestibular. O que poucos sabem, no entanto, é que muitos provavelmente trabalharão numa área que pouco ou nada tem a ver com o curso escolhido.

A baixa correlação entre a área de formação e a de trabalho levou os pesquisadores Edson Nunes e Márcia de Carvalho a definir, no título do trabalho, esse quadro como "A Grande Besteira Educacional Brasileira: Um ensino profissional que não se aplica às profissões que o defendem". Para Nunes, um dos elementos que engessam a educação é a pressão das corporações profissionais para limitar a atuação no mercado, regulamentar as profissões e interferir na definição dos conteúdos ensinados.

A legitimação de um bom profissional não está necessariamente vinculada a um diploma e/ou registro no conselho profissional de classe. O mercado de trabalho se interessa em escolher profissionais com elevada aptidões. Tais como: educação quantitativa, capacidade de liderança, capacidade de trabalhar em equipe, capacidade de escrita e experiência. Uma boa base educacional é fundamental para formar bons profissionais. O Brasil oferece uma educação secundária de péssima qualidade e uma profissional muito deficiente.  Isso faz com que nossos filhos tenham uma vida de estudante secundário focada para o vestibular. Os jovens deixam de cuidar da sua formação e se preocupam com a profissão. Em decorrência disso, produzimos muitos profissionais frustrados.

O objetivo maior do ensino superior é preparar pessoas competentes e com formação sólida o suficiente para dominar linguagens que as permitam aprender qualquer profissão. Se na prática ocorresse  isso não existiria no Brasil o termo ‘’analfabeto funcional diplomado’’. Em todo o país, os cursos de graduação presencial e a distância reúne 6,3 milhões de estudantes, matriculados em 29.507 cursos, distribuídos entre 2.377 instituições de ensino superior públicas e particulares. É o que mostra a sinopse estatística do Censo da Educação Superior, realizado em 2010 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais-INEP.

As áreas de ciências humanas, seguida de  Biologia e  Estatística são os cursos em que menos graduados permanecem na área. No curso de Geografia, apenas 1% atua na área depois de se formar, Economia 9,1% e Biologia 9,8%. Algumas formações tradicionais também têm baixa relação curso-trabalho, como Administração (46,4% seguem no setor), Engenharia (33,1%) ou Comunicação Social (27,7%). Analisando caso a caso de acordo com a classificação feita pelo IBGE 2000 para identificar as profissões pelo Censo, os pesquisadores perceberam, por exemplo, que o número de formados em Administração que trabalham como vendedores de loja são quase iguais ao de administradores de empresas. Há também um número superior de formados em Engenharia que hoje são dirigentes de empresas em comparação com os que atuam como engenheiros mecânicos. E há mais gerentes de apoio e de produção formados em comunicação do que jornalistas em redações com o mesmo curso.

Em 2000, a renda média de um trabalhador com graduação era de R$ 2.157, mais que o dobro da verificada entre os que tinham somente nível médio (R$ 931). Com pós-graduação, a renda chegava a R$ 3.755. O rendimento do profissional varia muito de acordo com a carreira. Em Medicina, chega a R$ 4.310. Em Pedagogia, é de apenas R$ 1.163. Além de ganharem mais, em média, os médicos são os que têm mais empregos: 41,9% têm rendimento de dois ou mais trabalhos. Em Administração, o índice é de apenas 4,7%. O clichê de que ter diploma em ensino superior garante em média salário duas vezes maior daqueles que não possuem é uma falácia. A forte expansão do ensino superior no Brasil está atrelada a crença de que ter um diploma nos trará uma remuneração maior e mais oportunidade de emprego. O rendimento do profissional varia de acordo com a carreira, mercado, habilidades e/ou aptidões no desempenho de funções.

Não é impossível vencer sem formação superior. Ser um autodidata convicto é o que nos diferencia dos milionários sem diploma tais como: Bill Gates, Steve Jobs, Amancio Ortega, Henry Ford, Mark Zuckerberg, Silvio Santos, Eike Batista, Samuel Klein, Julian Assange, Thomas Edison, dentre outros. Por outro lado, há autodidata que passou despercebido pela história da humanidade. È o caso de Hamilton Naki, um sul-africano negro, que jamais cursou Medicina, mas fora um grande cirurgião. Naki foi o segundo homem mais importante na equipe médica e fez o primeiro transplante cardíaco da história. Depois que o apartheid acabou ele ganhou uma condecoração e um diploma de médico honorário. Esse assunto foi matéria de quase todos os grandes jornais norte-americanos. No Brasil, não houve repercussão do assunto. Apesar, da grande contribuição de Hamilton Naki para a humanidade ele ganhava salário de técnico de laboratório e morava num gueto da periferia. A história dele é uma das mais extraordinárias do século XX e foi retratada no filme Quase Deuses.

Embora, concordem que é comum pessoa formada em suas áreas procurar outros caminhos, representantes de entidades profissionais defendem a regulamentação por acreditarem que é uma forma de garantir mais qualidade e direitos trabalhistas. È o que defende o  Conselho Federal de Administração, argumentando que a área de atuação do administrador é muito ampla. Para tanto, defende-se a regulamentação do administrador com base no argumento de que empresas podem falir e empregos serão perdidos por causa de má gestão.

Por outro lado, sabemos que o mercado não tem aberto novos postos de trabalho para todos os formados. Na contramão o governo vem oferecendo inúmeros cursos de nível superior no país. O boom desses cursos vem acompanhado da má qualidade no ensino superior no país. Um exemplo disso é curso de Direito que ao longo dos anos vem se desvalorizando. A maioria dos graduados em Direito se dedicam a concursos ou atuam em outra área.


A falta de vagas de trabalho e/ou a baixa remuneração em algumas profissões é uma das razões que levam muitos profissionais a procurar outras áreas ou fazer concursos públicos. Em 2011 foram 12 milhões de brasileiros prestando concurso público. A escassez de empregos e a instabilidade econômica têm levado milhares de brasileiros a se interessar pelo setor público. Independente de talento, formação profissional, vocação individual e/ou habilidades a imensa maioria busca os inúmeros benefícios oferecidos pelo Estado. Não haverá inúmeras vagas no setor público para absorver os 12 milhões de concurseiros. Portanto, forme-se em qualquer coisa, mas seja o melhor naquilo que você faz.

4 comentários:

  1. São poucas as matéria que eu tenho paciência de ler até o final, essa realmente foi "excelente".
    Meu pai, sr Emílio Bento Martins, foi um autodidata, e eu tenho maior orgulho de sua História. Ficou órfão aos 14 anos ajudou criar os 5 irmãos. Casou aos 23 anos, teve 10 filhos, foi um grande empreendedor e político(vereador na época da Ditadura Militar).

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  2. Rô,

    Agradeço sua participação. Como a maioria das pessoas não são autodidatas criou-se o mito do diploma como atestado de conhecimento adquirido. Erros médicos, falhas em construções, falência de empreendimentos, erro de parecer contábil, ensino precário, etc. Em muito desses casos as pessoas possuem ''diploma''.

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  3. Gostei do artigo.Reforça a minha opinião sobre a importância do Coaching universitário.Leia mais
    http://migre.me/9bCZH

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  4. Francisco,

    Obrigado pela visita. No início da semana li um artigo na RBA sobre coach. Comentei até com uns amigos que acho coach um engodo. Acredito que o coach siga o mesmo método de um pastor de igreja com frases de efeito e enfática. O meu conceito de autoconhecimento é individual.

    Li seu artigo. E se o estudante do artigo fosse da Unicamp e não Facamp será que ele teria contratado um coach? E se ele fosse engenheiro de petroleo e não de produção contrataria um coach?

    Suponho que pessoas mais esclarecidas e bem-sucedidas não contrate coach. Você acha que Justus, Eike Batista, Steve Jobs, Bill Gates tiveram coach no início da carreira? Planejamento, autoconhecimento, competência e habilidade são termos tão óbvios para qualquer aplicação na vida.

    Bem, se não é óbvio para muitos paga-se um coach para nos dizer o que fazer. Digamos que coach baseou-se naquela famosa frase ''se conselho fosse bom não se dava vendia.'' Resta-nos saber se quem pagou a um coach ficou extremamente safisfeito e conseguiu se deslanchar na carreira mesmo.

    Será que um desempregado teria condições de contratar um coach? Um coach não tem essa função de tirar a pessoa do buraco e/ou ver a luz? Quem está bem na carreira e ganhando bem não tem o porquê de contratar. Quem não tem recursos financeiros para pagar um coach tem que aprender sozinho mesmo.
    abraços

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