quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Se o voto fosse facultativo no Brasil


O voto é obrigatório para todas as pessoas que sabem ler e escrever e que tenham idade entre 18 a 70 anos. O voto é facultativo para pessoas analfabetas, para quem está com idade entre 16 e 18 anos e para os maiores de 70 anos.

Uma pesquisa realizada pelo Datafolha no início deste ano sinaliza que 61% dos brasileiros se opõem ao voto obrigatório. De acordo com a pesquisa os maiores índices de rejeição ao voto obrigatório estão no grupo de faixa etária entre 16 e 24 anos, onde esse índice atinge 58% dos entrevistados. Já o eleitorado entre 45 a 59 anos, esse índice supera a 68% dos entrevistados. Quanto maior a escolaridade e a renda familiar maior a rejeição ao voto obrigatório. Ressaltando que 57% dos entrevistados não iriam às urnas se o voto fosse facultativo.

Em 2011 a mesma pesquisa foi realizada pelo DataSenado e o índice apontou que 65% dos brasileiros preferem o voto facultativo. Ressaltando que 85% dos entrevistados afirmaram que iriam às urnas, mesmo se o voto deixasse de ser obrigatório.

Em virtude da crescente tendência ao absenteísmo do eleitor e ao aumento dos votos nulos e brancos a discussão em torno da obrigatoriedade do voto tem sido recorrente nos últimos anos. Há inúmeras discussões em torno das vantagens e desvantagens do voto obrigatório e facultativo. 

Apesar do aumento crescente de votos nulos e brancos nas últimas eleições os defensores do voto obrigatório argumentam que o aumento expressivo de votos nulos e brancos reflete a incapacidade do eleitor em operar a urna eletrônica do que uma insatisfação do eleitorado. Se isso for verdade, por que então obrigar a votar quem não é capaz de operar a urna eletrônica?

Os principais argumentos dos defensores do voto obrigatório são:

a)      o voto é um poder-dever: o ato de votar constitui um dever, e não um mero direito. A essência desse dever está na ideia da responsabilidade que cada cidadão tem para com a coletividade ao escolher seus mandatários;

b)    a maioria dos eleitores participa do processo eleitoral: O pleito em que a maioria dos eleitores vota é de legitimidade inconteste, tornando-o insusceptível de alegação pelos derrotados nas urnas de que o resultado eleitoral não corresponde à vontade dos eleitores;

c)      o exercício do voto é fator de educação política do eleitor: A participação constante do eleitor no processo eleitoral torna-o ativo na determinação do destino da coletividade a que pertence, influindo, desse modo, nas prioridades da administração pública, ao sugerir, pela direção de seu voto, aos administradores e parlamentares, quais problemas desejam ver discutido e resolvido;

d)   o atual estágio da democracia brasileira ainda não permite a adoção do voto facultativo: A sociedade brasileira ainda é bastante injusta na distribuição da riqueza nacional, o que se reflete no nível de participação política de largos segmentos sociais, que desconhecem quase que inteiramente seus direitos de cidadãos. O voto constitui, nessas circunstâncias, um forte instrumento para que essa coletividade de excluídos manifeste sua vontade política;

e)      a tradição brasileira e latino-americana é pelo voto obrigatório: Os países da América Latina mais importante, em termos de população e riqueza, em especial os da América do Sul, adotam o voto obrigatório desde que instituíram o voto direto, secreto e universal. No Brasil, essa tradição já vem desde 1932, sem que isso tenha ocasionado, até hoje, qualquer problema à democracia ou aos cidadãos brasileiros;

f)      a obrigatoriedade do voto não constitui ônus para o País, e o constrangimento ao eleitor é mínimo, comparado aos benefícios que oferece ao processo político-eleitoral: Não se conhece qualquer resistência organizada à obrigatoriedade do voto. Trata-se de uma imposição estatal bem assimilada pela população.  O fim do voto obrigatório significaria um ganho irrisório de liberdade individual, constituindo, porém, uma perda substancial do nível de participação dos cidadãos no processo eleitoral.

Já os principais argumentos dos defensores do voto facultativo são:

a)      o voto é um direito e não um dever: O voto facultativo significa a plena aplicação do direito ou da liberdade de expressão;

b)    o voto facultativo é adotado por todos os países desenvolvidos e de tradição democrática: Os países líderes que praticam a democracia representativa e que servem de modelo para os demais, constituem Estados democraticamente consolidados.  O fato de não obrigarem seus cidadãos a irem às urnas não os torna nem um pouco mais frágeis que o nosso quanto a esse aspecto. Não há qualquer país desenvolvido e politicamente amadurecido, que participe da chamada vanguarda da civilização ocidental, integrada pelos países da Europa ocidental e integrantes da Comunidade Britânica de outros continentes, além dos Estados Unidos da América, que imponha a seus cidadãos a obrigatoriedade do voto;

c)     O voto facultativo melhora a qualidade do pleito eleitoral pela participação de eleitores conscientes e motivados, em sua maioria: Os defensores da não-obrigatoriedade acreditam que o voto dado espontaneamente é mais vantajoso para a definição da verdade eleitoral. Com a adoção do voto facultativo, pode-se até admitir que, em algumas áreas de extrema pobreza, continue a ocorrer o chamado “voto de cabresto”, em que o chefe político da região tem um certo controle sobre o eleitorado, conduzindo-o às urnas, mas, por outro lado, deve reduzir-se a níveis ínfimos a quantidade de votos nulos ou brancos, denotando um corpo eleitoral motivado pela proposta apresentada pelos partidos ou candidatos. O eleitor que comparece às urnas contra a vontade, apenas para fugir às sanções previstas pela lei, não está praticando um ato de consciência; nesse caso, ele tenderá muitas vezes a votar no primeiro nome que lhe sugerirem, votando em um candidato que não conhece (fato que estimula a cabala de votos na boca das urnas, promovida pela mobilização de aliciadores de votos que o poder econômico propicia), ou a votar em branco, ou, ainda, a anular o seu voto;

d)   a participação eleitoral da maioria em virtude do voto obrigatório é um mito: Trata-se de um engodo, pois o fato de o eleitor ir a uma seção eleitoral não significa que ele está interessado nas propostas dos candidatos e dos partidos políticos.  Um número elevado de eleitores vota em branco ou anula seu voto deliberadamente, como protesto, ou por dificuldade de exercer o ato de votar por limitações intelectuais. Assim, o sistema político pode tornar-se desacreditado pela constatação da existência de um número elevado de votos brancos e nulos, para não se mencionar o absenteísmo, que cresce a cada eleição pela desmotivação do eleitor;

e)      é ilusão acreditar que o voto obrigatório possa gerar cidadãos politicamente evoluídos: Ao referir-se à obrigatoriedade de votar como um exercício de cidadania do eleitor, muitos defensores do voto obrigatório querem fazer crer que o fato de um cidadão escolher um candidato transformá-lo-á em um outro homem, conhecendo seu poder de intervenção na sociedade. Cabe aos partidos políticos cativarem essas pessoas para suas propostas. Se tais propostas forem sedutoras, os eleitores comparecerão às urnas;

f)     o atual estágio político brasileiro não é propício ao voto facultativo: Acreditam os que comungam desse pensamento que não temos uma sociedade com maturidade política suficiente para praticar a democracia na forma dos países do Primeiro Mundo. Entendem que o eleitor brasileiro ainda se encontra em estágio político inferior para o pleno exercício da democracia, havendo necessidade de que alguém superior, como o Estado, acompanhe-o, ensinando-o como exercitá-la.

Em meio a essa celeuma uma coisa é certa não é o voto facultativo e nem o voto obrigatório que tornará nossas escolhas mais acertadas e/ou conscientes.  Nós, brasileiros estamos desacreditados, não só nos partidos políticos, mas nos candidatos, nas instituições públicas e políticas.  Somos obrigados a ir às urnas para escolher dentre os candidatos o menos pior, o menos corrupto, a proposta de governo menos pior, etc. Enfim, não há no cenário político brasileiro candidatos para solucionar problemas históricos do Brasil nas áreas de educação, saúde, habitação, segurança, transporte, etc  e uma infinidade de problemas sociais que com o tempo só se agrava mais.  Em algum momento de nossa história política votamos conscientes sim e o difícil foi acreditar na decepção que tivemos em nossas escolhas.  Intelectuais também fazem escolhas ruins tanto quanto o analfabeto. A diferença é que pensamos ou acreditamos ser a melhor opção.

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