sexta-feira, 16 de maio de 2014

Ao mestre, com carinho: Aqui não é Londres


 To Sir, with Love, é um filme britânico dos anos 60 que retrata questões sociais e raciais em uma escola localizada na comunidade pobre de Londres. O filme retrata a história de um engenheiro negro em busca de oportunidade em sua área de formação. Após inúmeras tentativas e sem sucesso em conseguir um emprego na área de engenharia ele resolve exercer o papel de professor enquanto aguarda uma oportunidade em sua área de formação.

Em meio a protestos por melhorias na educação e valorização na carreira de professor no Brasil o filme vai na contramão no quesito valorização na carreira de professor. Ao contrário de países com ensino considerado de alta qualidade tais como: Cingapura, Finlândia e Canadá, no Brasil os cursos de Pedagogia, Licenciatura ou Magistério são vistos como algo que qualquer um pode fazer. No Brasil, assim como no filme  a maioria não escolhe ser professor, é escolhido ou por falta de oportunidades de emprego em sua área de formação ou por falta de opção mesmo. O que faz um curso ser profissionalmente respeitável e mais disputado? Tomemos como exemplo a Finlândia, onde a docência é uma opção profissional respeitada. Lá a formação do docente passou a ser feita pelas universidades. Os aspirantes à docência são submetidos a rigorosos exames de admissão, que incluem provas, entrevistas, atividades práticas que avaliam motivação e habilidades de comunicação interpessoal dos candidatos. Em síntese, as estratégias de recrutamento e formação inicial parecem ser o diferencial na valorização da profissão. Além do comprometimento do professor em engajar e estimular o aluno ao aprendizado. No Brasil, temos a visão de que o engajamento e motivação ao aprendizado é responsabilidade do aluno e não do professor. Com a turma engajada ou não no aprendizado o professor recebe o salário do mesmo jeito. Nessa visão simplista só o aluno tem a perder e muito. 

No Brasil, os cursos de Engenharia e Medicina ainda possuem pouco ou algum prestígio social, devido ao nível de exigência, conhecimento e preparo dos aspirantes às profissões de médico e engenheiro, pois ocupar uma vaga nesses cursos em universidade pública ainda é para poucos. A dificuldade em expandir  e popularizar esses cursos é o que ainda garante uma qualidade razoável na formação desses profissionais no Brasil. 

Ser docente é mais do que ministrar aulas. Precisamos inserir nas salas de aula um novo tipo de ensinamento. A estratégia de ensino adotado pelo personagem do filme é tratar de temas que fazem parte do mundo competitivo e real dos adultos. Tais como: a vida, a sobrevivência,  a determinação, a coragem, a disciplina,  o amor, a morte, o sexo, o casamento e a batalha por uma vaga no mercado de trabalho. È preciso discutir abertamente em sala de aula sobre a responsabilidade de cada um na relação professor e aluno. A maneira como você estuda, a sinceridade e a dedicação com as quais você se aproxima de seus estudos e a seriedade de como você aplica o que aprende em sua vida é de inteira e responsabilidade do aluno. A ascenção pessoal e profissional é determinada pelo aluno e cabe a você mesmo tomar essa iniciativa e assumir a responsabilidade para alcançar seus objetivos. Ou seja, é o aluno quem direciona o curso de sua própria vida. O que os professores oferecem são métodos para auxiliá-los a atingir essa finalidade. 

Apesar do contéudo didático ser uma fonte fundamental das técnicas de ensino do professor, ela não é a única. Há uma outra fonte extremamente importante que é negligenciada em sala de aula e que faz parte do mundo a nossa volta (a vida, a sobrevivência,  a determinação, a coragem, a disciplina,  o amor, a morte, o sexo, o casamento e a batalha por uma vaga no mercado de trabalho).

 Um levantamento da ONG-Todos Pela Educação com base em dados do PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios) mostra que os professores de educação básica brasileiros ganham apenas um terço do que a média de profissionais formados em ciências exatas. Isso explica a dificuldade de muitas escolas em conseguir bons professores de física e matemática, já que profissionais com esse tipo de formação conseguem remuneração muito superior em outras áreas. No Brasil, se falta um professor de física ou matemática qualquer um pode dar aula no lugar dele. E com certeza  não será nem engenheiro ou médico. 

No filme, To Sir, with Love o reconhecimento do Thackeray  como um bom professor  nada tem a ver com capacitação e formação de mestres. Tem a ver com atitude, comportamento, conhecimento direcionado e o mais importante uma imensa vontade de transformação do meio a sua volta. Deparar-se com uma turma indisciplinada e desprovida tanto de uma estrutura familiar quanto financeira é uma situação comum até em países desenvolvidos. Já em nosso caso, no Brasil a situação toma proporções gigantescas atrelada a outros problemas tais como: falta de planejamento no sistema educacional brasileiro para atingir uma educação de melhor qualidade e mais eficiente, infraestrutura escolar, qualificação do professor e dentre outros. 

O que nós, brasileiros podemos aprender com o filme To Sir, with Love é ser autodidata, construir nosso  próprio conhecimento, não esperar aprender algo muito produtivo nas escolas e universidades brasileiras. Nossa política de ensino está mais para o filme Apertem os Cintos... o Piloto Sumiu. Programas do tipo Todos Pela Educação e Amigos da Escola só servem para corroborar que o Estado não sabe o que fazer e como fazer para melhorar a qualidade do ensino no Brasil. Disfarçadamente o Estado ‘’transfere’’ sua responsabilidade para com a educação para a sociedade civil. Esta por sua vez, representada pelo professor transfere para o aluno como o único e responsável para construir seu conhecimento. Enfim, se você é um bom aluno o mérito é seu e se você é um mau aluno a culpa é sua. Tanto o conhecimento quanto a ignorância nos tornam responsáveis. A mim, com carinho e ódio.... 



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