terça-feira, 29 de maio de 2012

Consumo consciente ou crise de consciência




Por que nossa sociedade nos obriga a fazer compras? A terapia de varejo é uma tentativa de substituir algo faltando em nossa vida?
O consumo é necessário para manter as empresas vivas. Podemos entender consumo sustentável, responsável ou consciente sob duas ópticas: comprar tudo o que quisermos, mas desde que sejam’’ produtos verdes’’ e/ou serviços ‘’politicamente corretos’’. Ou simplesmente comprar menos coisas.  O consumo da classe média não está apenas associado ao aumento da renda em si, mas principalmente pela redução dos custos de produção. Atualmente, há vários produtos e serviços mais acessíveis a população. Tudo em nossa sociedade é baseada na idéia de que o consumo deve ser tão fácil quanto possível. Muitos estão percebendo que o poder de consumo está nos impedindo de encontrar a felicidade verdadeira e sincera, e o shopping funciona muitas vezes como um substituto para algo que está faltando na vida.  O consumo pode ser visto de diferentes pontos de vista: ético, social, político, econômico ou humanista.
A formação de uma população menos consumista e com maior consciência ambiental implica em reduzir o consumo exagerado de bens materiais. Isso, consequentemente envolve o mercado da publicidade. Diversos estudos mostram que a propaganda influencia a maneira pela quais crianças e adolescentes se relacionam com produtos e, inclusive, com a família. Em tramitação há uma década o projeto de lei que pretende proibir a publicidade infantil no Brasil ainda gera controvérsias.
Segundo, a Abap-Associação Brasileira de Agências de Publicidade, o país está caminhando contra a tendência mundial. Um levantamento feito pela associação mostrou que só três países proibiram a publicidade infantil (Suécia, Noruega e a província canadense de Québec). É inegável que a propaganda tem poder de estimular as vendas, mas cabe aos pais a decisão de compra. Uma pesquisa do Ibope mostrou que 25% dos brasileiros compram devido à publicidade. Só 37% comprariam menos se não houvesse propaganda. A maioria, 66% considera a propaganda informativa. Além disso, só 1% das reclamações registradas nos PROCONs do país se refere à publicidade.
Muitos bancos e empresas defendem em suas propagandas o consumo do dinheiro e crédito consciente, mas na prática o consumidor sente-se atraído pelo crédito fácil sem consulta ao SPC ou Serasa. As propagandas de consumo consciente promovidas pelas instituições financeiras são contraditórias e cômicas. Para atrair clientes os bancos oferecem crédito com a intenção de lucrar.
Os bancos são mestres em nos encabelar com promoções, cartões e muitos benefícios. Especialistas apontam que os bancos não conseguem dar a informação que os consumidores precisam tais como: taxas administrativas e/ou taxas de juros. Para os especialistas esses são assuntos que a maioria dos bancos não prefere comentar aos clientes. Se os consumidores perguntarem tentam responder, mas não informam claramente todos os encargos e despesas incidentes nas operações bancárias. Outra prática comum nos bancos é de empurrar serviços  desnecessários. O banco visa lucro e nos enxerga como possibilidade de ganhar mais. Não se iludam, os gerentes de bancos são bem treinados para nos vender algo que não queremos comprar. Aliás, não é só banco o comércio de modo geral está sempre nos empurrando a consumir. Será que dá para acreditar que alguma empresa está engajada nesse tal de ‘’consumo consciente’’?
Nossos hábitos de consumo nem sempre correspondem aos níveis de renda, pois às vezes compramos algo por pura exibição. Sem dúvida, compramos para fazer parte de um grupo ou ingressar nele. No Brasil, a classe C passou a existir pelo fato de consumir mais. Atualmente, a maioria dos produtos e serviços está direcionada para a classe C. O IBGE divide as categorias das classes sociais de acordo com a renda familiar mensal. Estão na classe E as pessoas com renda de até R$ 751. Na classe D figuram as famílias que recebem entre R$ 751 e R$ 1.200 por mês. A classe C é composta de famílias com renda entre R$ 1.200 e R$ 5.174. Já a classe B inclui pessoas com renda familiar entre R$ 5.174 e R$ 6.745. Qualquer família que ganhe mais do que isso por mês é considerada classe A pelo IBGE.

Entre 2010 e maio de 2011, a classe média é a única do estrato social brasileiro que continuou em expansão, segundo estudo divulgado pela FGV- Fundação Getúlio Vargas. No período, 3,6 milhões de pessoas migraram para a chamada classe C, apontou a entidade, que usou como base os dados da PNAD - Pesquisa Nacional de Amostras a Domicílio, do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.  No entanto, as classes A e B apontaram um pequeno recuo no período, o primeiro desde 2003. Segundo a FGV, 237 mil pessoas deixaram as camadas mais abastadas rumo à classe média. As classes A e B representam atualmente 11,76% da população brasileira, ou 22,5 milhões de pessoas.

Sem dúvida, o consumo tem conotações boas e más, mas para a classe C consumir significa ir à forra. A classe C não está preocupada em evitar o consumo makeover. Os seres humanos adoram viver em grupo e fazem qualquer coisa para manter-se em um grupo.  Para evitarmos a exclusão fazemos ou compramos aquilo que a maioria das pessoas está fazendo ou comprando.

Um movimento internacional chamado downshifting, nos EUA é conhecido como Simplicidade Voluntária está crescendo rapidamente. Trata-se de tomar o controle sobre a própria vida e não seguir o fluxo. Diminuir o consumo, trabalhar menos e ter mais tempo de lazer. Os valores fundamentais da downshifting são: consciência econômica, simplicidade material, auto-suficiência e redução do desenvolvimento profissional. Em outras palavras, eles são bastante semelhantes aos valores do Slow Food e os movimentos lentos da cidade.

Afastar-se da histeria do consumo atual é estar ciente de como vivemos. Não devemos esquecer que além de custar dinheiro o consumo também nos rouba tempo. Nossa vida é muito curta para ser desperdiçada fazendo compras. Pesquisas apontam que o americano médio passa seis horas por semana fazendo compras.

Os consumidores sempre usaram o consumo para fazer uma declaração sobre o seu status social, mas só recentemente os pesquisadores começaram a analisar a forma como os consumidores usam o consumo para sinalizar conceitos mais abstratos, como o altruísmo. As pessoas compram produtos ‘’verdes’’ não só pelo fato de serem ambientalmente sustentável, mas querem sinalizar aos outros que estão fazendo a sua parte para salvar o planeta. Porém, nem todos estão dispostos a pagar mais caro para garantir a sustentabilidade do planeta.

As pessoas consomem por inúmeros motivos tais como: sobrevivência, conforto, luxo ou extravagância. Portanto, a melhor noção de estilo de vida é a presença consciente de nossas escolhas, pois não podemos comprar sustentabilidade e nem felicidade. De que adianta comprar produtos sustentáveis se não temos um estilo de vida sustentável.


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