sábado, 25 de fevereiro de 2012

Projeto antibaixaria sinaliza a decadência cultural brasileira




O projeto antibaixaria é de autoria da deputada estadual Luiza Maia (PT-BA), no qual veda as contratações com recursos públicos de artistas que cantem músicas que desvalorizem as mulheres. Segundo a deputada, o projeto não é uma forma de censura, pois seu objetivo é combater a violência contra as mulheres. O Ministério Público da Bahia e demais entidades que atuam no combate a violência doméstica contra as mulheres apóiam o projeto da deputada estadual.
È fato que nos últimos anos as músicas produzidas no Brasil vêm incitando a violência, o sexo, as drogas e o álcool. È imenso o repertório da musicalidade brasileira com letras de duplo sentido ou vulgares.  Funk, forró, pagode, axé, rap, rock, sertanejo, dentre outros estilos musicais apelam para a baixaria para entreter o público. O projeto antibaixaria não possui critérios objetivos para definir músicas que desmoralizem, desqualifiquem, ridicularizem ou banalizem as mulheres. O projeto não possui parâmetros para regulamentar as canções que ofendam as mulheres ou incentivam a violência. A autora do projeto defende que o foco não são as músicas de duplo sentido, mas as músicas que reforçam o preconceito e a violência contra as mulheres. O principal objetivo da deputada é impedir que o dinheiro público fomente artistas que cantem ofensas contra as mulheres.    
A arte é uma manifestação cultural que está ligada as idéias e crenças de uma sociedade. Historicamente o baiano sempre esteve associado à sensualidade. O escritor mais famoso da Bahia, Jorge Amado em suas obras literárias exaltou sensualidade à flor da pele. Seus livros foram traduzidos em 55 países. Apesar de sua obra retratar as injustiças sociais e a opressão a presença da mulher é bastante intensa. Mulheres fogosas, ancas volumosas, pele bronzeada, lábios carnudos e sorridentes estão presentes em várias obras do autor baiano. Seus personagens povoam o imaginário masculino tais como: Gabriela, Cravo e Canela, Tieta do Agreste, Dona Flor e seus dois maridos. No passado renomados artistas brasileiros usaram a sutileza para descrever a beleza e a sensualidade da mulher brasileira. Poderíamos dizer, então que indiretamente José de Alencar e Jorge Amado contribuíram para o turismo sexual no nordeste? O estrangeiro que leu Iracema imagina encontrar aqui no Brasil a ‘’ virgem dos lábios de mel’’. Infelizmente ou felizmente a sexualidade  faz parte da nossa cultura.  Quando Cabral ''descobriu'' o Brasil ele gritou ''bunda à vista''!!! Além disso, o nome Brasil é por causa da  árvore de madeira avermelhada chamada pau-brasil. Ou seja, a sexualidade já povoa nosso imaginário desde o ''descobrimento'' de nosso país.
Enquanto que no passado renomados artistas brasileiros utilizavam a sutileza para descrever a beleza e a sensualidade da mulher brasileira. Hoje os artistas preferem ser mais explícitos em suas canções. È como diz o refrão da música do Psirico ‘’pra falar de mulher eu quero tirar a roupa!! Ai mulher boa!! pele bronzeada a mulher brasileira é toda boa’’. Então, essa música valoriza ou desmoraliza a mulher? As músicas de baixaria são voltadas para o consumo rápido. O problema não é a cultura virar mercadoria. Ela já nasce mercadoria e muitos artistas visam ao sucesso, produzindo músicas comerciais para agradar ao público. Muitos artistas já se renderam ao ‘’sistema’’ e se adequaram em prol do lucro. O que importa é o lucro e não o conteúdo.

Apesar de existirem poucas e boas produções culturais no Brasil elas ficam restritas a um pequeno público. Isso ocorre, porque produções mais intelectualizadas não conseguem espaço na mídia. Dessa forma muitas não conseguem levar seu trabalho adiante, devido à falta de recursos. Os meios de comunicação formados pela Tv, rádio, cinema, jornais, revistas e internet formam um poderoso sistema divulgador de arte. A Tv por ser mais acessível às massas consegue exercer seu controle social. Apesar de termos várias opções de entretenimento e de formas de propagação, isso não significa qualidade cultural e informacional. A Tv, por exemplo, só põe no ar aquilo que aumenta a audiência. Muitos canais de comunicação veiculam aquilo que tem consumo certo. Geralmente, eles transmitem aquilo que o público quer consumir. Forma intelectualiza de música não possui espaço na mídia. O povo alienado não está acostumado a consumir produtos ou serviços que levem ao questionamento e raciocínio. A maioria da população brasileira nem sequer se interessa por programas que saiam do comodismo intelectual. Nos países desenvolvidos a população possui diferentes formas de lazer. Enquanto que no Brasil a Tv é a única opção de lazer. O Brasil investe pouco em educação e praticamente despreza a cultura, talvez isso explique a decadência cultural atual. A maioria do que chama-se ‘’cultura’’ no Brasil está expressa em temas irrelevantes e se apóia em palavrões para fazer rir e entreter a massa. A arte do insulto protagonizada por Rafinha Bastos está aí para os políticos definirem ofensas de humor. Será que ninguém percebeu que baixaria e insulto no Brasil agora é sinônimo de arte?
Aliar preço baixo ou programação gratuita cultural não quer dizer necessariamente que as pessoas terão interesse em conhecê-la. Se tivéssemos duas programações culturais em  praça pública uma de pagode e a outra de música erudita em qual delas uma empregada doméstica iria se divertir? O conceito de diversão para muitos brasileiros em relação à música é chão-chão-chão-chão se não tiver baixaria não é diversão. Isso não é somente típico do brasileiro em outros países há também o culto a baixaria. Apesar dos críticos argumentarem o perigo das letras da música acreditando que algumas pessoas sairão imitando na vida real a canção de uma música, embora seja possível é altamente improvável que na prática isso aconteça. Há algum relato de mulheres que foram espancadas ao som da música de pagode ‘’tapa na cara’’?
O baiano paga caro para curtir shows de axé e pagode no carnaval, mas reclama que a bienal do livro em Salvador estava cara. Será que isso só se vê na Bahia? Em 2011 a organização do evento reduziu o valor da inteira R$ 8,00 para R$ 4, a fim de estimular uma maior quantidade de visitas. Será que o evento bateu recorde de público em relação ao ano anterior? È provável que não, pois o baiano ainda continua atrás do trio elétrico curtindo o chicletão, ivetão, danielão dançando até o chão segurando um cervejão.

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