quinta-feira, 4 de outubro de 2012

De que adianta votar válido?


Muito se comenta sobre o desperdício que um eleitor estaria fazendo ao votar nulo. O processo eleitoral deveria apenas ser o primeiro passo no caminho de um país melhor. Não deveríamos votar apenas para eleger um candidato, mas votar para eleger um candidato que representasse nossos interesses como se fossem seus próprios interesses, que fizesse uso dos impostos que pagamos para que todos os projetos benéficos fossem implementados e que vigiasse todo esse processo de forma honesta e voraz de maneira a não abrir oportunidades para corruptos. Um político imbuído de uma postura ideológica como essa estaria atualmente mais próximo de um personagem de ficção do tipo justiceiro. O Batman vai se candidatar?
Muito se comenta que ao anular o voto não se tem mais a justificativa moral para reclamar. O voto nulo já é a reclamação prévia. Poderíamos ir adiante. Voto nulo é mais uma das reclamações de quem já anda, há muito tempo indignado. O voto nulo não é a manifestação política; para esse eleitor, a ilusão de que votar resolve alguma coisa já está na missa de sétimo dia. O voto nulo é de fato um desabafo que ninguém escuta já que nenhum político se importa de fato com a população. Mas o voto válido não é exatamente o oposto.  O apelo escancarado para votar válido existe, pois desta forma, o indeciso, pelo caminho mais fácil, vai acabar escolhendo alguém que está bem nas pesquisas encomendadas, pois esta é a mesma pessoa que vota válido por medo de “desperdiçar” o voto e vai acabar favorecendo o candidato que apenas possui mais recursos de propaganda eleitoral. Vai descobrir que sua escolha foi péssima (e seu voto desperdiçado) quando for assistir aos telejornais e suas reportagens, com câmeras escondidas ou quando tentar ser atendido em um hospital público.

Não importa o que diz o artigo 224 da Constituição de 1965 ou o artigo 77 da Constituição 1988. Na verdade não importa muito as lei no Brasil quase sempre sujeitas a (re)interpretações temporais. Poderíamos ficar em debates eternos sobre o caráter normativo de cada um. O problema dos votos válidos vs. nulos não é o risco jurídico de ter que realizar novas eleições, mas a repercussão internacional de um governo sem apoio popular e principalmente sem a perspectiva de apoio popular a curto e médio prazo. A fuga de investimentos e o aumento dos índices de risco são conseqüências diretas. Nesse âmbito é de impressionar a pró-atividade e eficiência do governo em solicitar campanhas de divulgação sobre a inutilidade do voto nulo. Nem parece órgão público. A campanha não é para o eleitor avaliar a idoneidade do candidato e suas propostas, caso fosse, era possível que aumentasse ainda mais o número de eleitor votando nulo.

Muito se comenta sobre os bons candidatos que poderiam ser eleitos e os maus candidatos derrotados se não houvesse os votos nulos. Quantos candidatos corruptos se elegeram e honestos deixaram de se eleger com os votos nulos? Não mais do que os que se elegeram ou não com os votos válidos. Não há garantia de que se todo mundo que votasse nulo, passasse a votar válido, algo iria melhorar. Os votos nulos e brancos nunca mudaram o curso da história no Brasil, porque os votos por si só nunca tiveram essa força e propósito. O atual prefeito de Salvador; eleito em 2004 e reeleito em 2008, João Henrique rebaixou a cidade de Salvador a uma das piores capitais do Brasil obtendo o índice histórico de reprovação de 79% e por duas vezes o título de pior prefeito (Fonte IBGE). Tomar posse e cruzar os braços não resolve. Descrente e cansado de ser enganado, o eleitor passa a buscar resultados, e tomando esse critério como referência; infelizmente teremos que colocar intelectuais, jogadores de futebol, músicos e todo resto do circo que almeja se instalar em Brasília no mesmo patamar, o de resultado nulo.

Muito se comenta que ao anular o voto estaríamos querendo nos isentar da culpa dos problemas sociais. O caminho do sucesso também passa por não fazer maus negócios. Ter como única opção e ser obrigado a escolher entre ser roubado por um comediante ou uma garota de programa não é democracia; assim como também não é democracia votar em um cidadão engravatado que se apresenta como uma solução prática dos seus problemas quando na verdade é tão ou mais palhaço que o comediante e tão ou mais vendido que a garota de programa. Aliás, culpar o eleitor, tendo ele votado nulo, branco ou válido por um Mensalão e os demais desvios, é o mesmo que culpar uma mulher espancada por ter casado com o “homem errado”.  Começa-se com a sedução para se ganhar confiança depois se mostra a verdadeira face.

Depositar todas suas esperanças em um voto é o mesmo que depositar todas suas esperanças em um bilhete da Mega-Sena; é querer uma solução rápida para tudo com pouco esforço. É ingenuidade. Tão conveniente quanto votar nulo baseado em qualquer ideologia, é votar válido porque alguém te disse que do contrário seria um desperdício. Muito se pergunta “de que adianta votar nulo?”. Mas a pergunta que fica no ar é “de que adianta votar válido?”.



Autor: Hamilton Maranhão SSA, 03/12/2012

2 comentários:

  1. Nos povo brasileiro concordamos: https://www.youtube.com/watch?v=j97aqzB5Zi8

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    1. Afirmar que os candidatos honestos escolhem os partidos pequenos para não se misturar aos ''porcos'' é meio difícil de acreditar nisso, ou seja impossível. Não basta ser honesto é preciso ter inteligência e estratégia para quebrar o '' sistema''. O mundo é criado por regras, sistemas e imposições. O honesto não poderia ''fingir'' para se infiltrar no sistema? Conheça as regras e mude o sistema. Essa é a lei universal. Se o partido pequeno não se mistura ou faz ''coligação'' com os mais fortes. È preciso desenvolver uma estratégia para atingir um maior número de votos. Para os candidatos de partidos menores é mais fácil culpar o sistema político eleitoral brasileiro. Sim, ele é injusto. E aí? È mais fácil fazer uma reforma política ou criar uma estratégia para angariar mais votos? O mundo é feito de escolhas, mas escolhas inteligentes.

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