
Falar inglês e mandarim fluentemente, ter experiência profissional, ter diversos
títulos profissionalizantes e ter concluído a graduação em uma boa universidade
não são requisitos básicos exigidos em todos os setores da economia. O saber-fazer é o que torna o
profissional qualificado. De nada adianta ter inúmeros títulos, ter
conhecimento técnico, falar fluentemente outra língua e ter estudado em uma
instituição de renome se na prática o profissional não apresenta bons
resultados para a empresa.
Empregado e empregador possuem conceitos divergentes de qualificação
profissional. Para o empregado quanto maior tempo de estudo e mais
investimentos em curso ele tiver mais qualificado ele acha que é. Já para as
empresas quanto maior tempo o profissional tiver exercido determinada atividade
mais qualificado ele será. Para as empresas os pré-requisitos de qualificação
resumem-se a experiência, técnica (conhecimento e execução), resultado e cursos
específicos na área que você atua ou vem atuando ao longo da sua carreira
profissional. Por exemplo, se você atua há anos no setor contábil, mas possui
especialização em logística dificilmente uma empresa lhe contratará para a área
de logística, pois para a empresa você não tem qualificação para atuar na área
de logística.
Nas últimas décadas cresceu o número de brasileiros com ensino superior.
È cada vez maior o número de recém-formados e sem experiência no mercado
brasileiro. Uma pesquisa aponta que a principal queixa das empresas referem-se à
falta de preparo técnico e a pouca experiência profissional. Por outro lado, as
universidades no Brasil, de modo geral têm como objetivo preparar profissionais
para a carreira de base intelectual (ciência e pesquisa). O culto ao
conhecimento prático e especializado tem gerado o descrédito nas instituições
de conhecimento científico. A divergência entre teoria e prática reflete a
máxima popular do ensino brasileiro que diz ''Quem sabe faz quem não sabe
ensina''. O ensino brasileiro vive um dilema entre o conhecimento geral e
conhecimento específico. Diante desse contexto, percebemos que as universidades
brasileiras nem formam profissionais para área de ciência e pesquisa muito
menos prepara o profissional para atender as exigências do mercado.
As empresas exigem que os trabalhadores sejam qualificados, mas nem sempre
as empresas estão dispostas a remunerá-los de acordo com sua competência,
experiência e formação. O mercado de trabalho está mais exigente quanto à
formação, habilidades e competência dos profissionais. Porém, apenas alguns
setores da economia estão dispostos a oferecer melhores salários. È o que vem
ocorrendo, por exemplo, nas áreas de petróleo, energia, tecnologia e construção
civil. As demais áreas exigem-se demais e paga-se de menos.
Os baixos salários afastam bons profissionais. Em alguns casos,
muitos profissionais estão tornando-se empreendedores, tornando-se prestador de
serviço ou disputando vagas no setor público. Nos últimos anos, o salário do
setor público está mais atraente do que no setor privado. Em 2011 foram 12
milhões de pessoas disputando vagas em concursos públicos em todo o território
nacional. E a cada ano as disputas ficam acirradíssimas. Uma pesquisa
divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta
que servidores públicos são mais bem remunerados que trabalhadores da
iniciativa privada. De acordo com a pesquisa o salário médio foi de R$2.268,12
contra R$1.461,37 do serviço privado. Advogados e juristas, por exemplo, que
trabalham as mesmas 40 horas semanais ganha no governo ou no setor militar 121%
a mais do que seus colegas de formação empregados com carteira assinada no
setor privado: R$ 10.097 contra R$ 4.578, em média.
De acordo com o Diretor de Assuntos Salariais e Políticas Econômicas da
Confederação dos Servidores Públicos do Brasil (CSPB), Lineu Neves Mazano, é
necessário se fazer um estudo por função para que a pesquisa seja válida,
excluindo os cargos comissionados que são contabilizados. ”Os salários dos
servidores públicos não são altos, a pesquisa contabiliza também os cargos
comissionados que são mais bem remunerados. Se for fazer uma pesquisa por
função, principalmente do executivo onde está a maior massa de servidores,
entre eles professores, policiais e médicos, o salário do servidor muitas vezes
fica equiparado ao do setor privado”, explica. De 2009 para 2010, o salário médio
da administração pública subiu de R$2.234,33 em 2009 para R$2.268,12
em 2010. No mesmo período que as empresas privadas tiveram um aumento de
R$1.4478,91 para R$1.461,37.
O governo emprega milhares de comissionados e esses possuem melhores
salários que os servidores efetivos. Hoje, no setor público do Brasil, existem
cerca de 25 mil cargos comissionados.O salário no serviço público baseia-se na
escolaridade. Ou seja, em alguns cargos quanto maior o número de títulos acadêmicos
maior o salário. Em algumas regiões os
salários dos funcionários públicos estão maiores que os trabalhadores da mesma
ocupação no setor privado. Salário mais atraente e estabilidade têm atraído
muitos profissionais para o setor público. Ressalta-se que, especialmente no setor
público federal, existem diversas carreiras típicas de Estado, existentes em
todos os países (com maior ou menor peso relativo dentro do setor público) e
que se relacionam, por exemplo, à vigilância de fronteiras, à atuação do Judiciário,
às forças de repressão interna (polícias e guardas civis ou militares), à área
de Relações Externas e às funções de arrecadação de impostos, sem contar
as Forças Armadas. E são justamente essas ocupações que pagam os melhores
salários, tendo sido objeto de intensa disputa nos últimos concursos realizados
pelo governo federal.
A diferença de salário em favor do setor público se explica
principalmente pelo fato de que, no setor público brasileiro, o perfil dos
ocupados, segundo o grau de instrução é muito melhor que no setor privado;
portanto, o salário médio do setor público fica acima do salário médio do
setor privado, pois este concentra uma parcela muito grande de empregados
com apenas o ensino fundamental incompleto (27,7% em 2008) e mais 17,8%
com apenas até o fundamental completo – justamente os graus de instrução
aos quais se relacionam os salários mais baixos. O aumento do salário
médio do setor público se deve, em boa medida, ao aumento do número de
contratações de profissionais de nível superior, em concursos recentes,
conforme o Ipea demonstrou em estudo recente sobre o tema (Comunicado da Presidência
nº 19 - Emprego Público no Brasil: Comparação Internacional e Evolução,
disponível no sítio do Instituto na internet, www.ipea.gov.br).
O êxodo de profissionais do setor privado para o setor público ocorre
não somente apenas por questões salariais e estabilidade, mas condições de
trabalho. Ambiente de trabalho altamente competitivo gera muito stress e
cobranças por resultado. Suponha-se que você ganhasse o salário
R$4.000,00 para atuar no setor público ou privado. Qual você escolheria? Como
diz a canção do Tim Maia ‘’Ora bolas, não me amole com esse papo, de emprego.
Não está vendo, não estou nessa. O que eu quero? Sossego, eu quero sossego...’’
Ao invés das pessoas estarem debruçadas sobre os problemas das empresas,
tentando descobrir como trazer mais lucros, clientes e solucionar problemas
organizacionais as pessoas estão preferindo debruçar-se sobre os livros para
ingressar no setor público. A vantagem de trabalhar no serviço público não
reside apenas em salário e estabilidade, mas também trabalhar sem stress e
cobranças excessivas por resultados.
A escolha da carreira profissional é equivocada pelo mero
desconhecimento da demanda do mercado de trabalho,
das condições de trabalho e remuneração. Não é à toa que muitos jovens
universitários estão se perguntando ser trainee ou funcionário público, eis a
questão.
Prof. Sônia,
ResponderExcluirObrigada pela visita. O contraditório do ensino brasileiro é termos um ensino superior voltado ao academicismo(ciência e pesquisa), num país onde pouco se investe em pesquisa. No Brasil, para ser pesquisador precisa ser necessariamente um professor. Em muitos casos, o pesquisador acaba tornando-se professor por ''imposição''.
O problema é como sair desse sistema de ensino ineficiente. Se o professor já era desvalorizado, agora então a tendência é piorar.